Eu tinha 27 anos e estava morando em Los Angeles, EUA.
Eu tinha um trabalho bom em uma compania de internet durante os anos dourados.
Éramos todos jovens, ganhando um bom dinheiro, e trabalhando de 80 a 90 horas
por semana. No meu caso, estavando comendo cigarros e café, um atrás do outro.
Eu tinha uma viagem de negócios marcada para Nova Iorque que eu estava doida
para ir, mas foi quando tudo começou a acontecer.
Eu sabia que alguma coisa estava errada assim que eu
entrei no avião. Toda vez que eu engolia – e não somente comida ou bebida –
sentia como se tivesse pedaços de video arranhando minha garganta. Eu m
esforçava para não chorar, eu nunca tinha sentido tanta dor na minha vida.
Eu tinha ido ao médico para fazer um check-up um mês
antes e fiz um exame de sangue. Apesar de ter algumas coisas um pouco altas e
outras um pouco baixas não havia nada para se preocupar. Então decidi ir ao
médico naquele mesma sexta-feira novamente e refazer um exame de sangue que não
ficaria pronto até na segunda-feira.
Passei o fim de semana na casa de um amigo tentando
não o preocupar com o que estava acontecendo, mas eu não podia esconder o fato
de que eu não estava nem comendo nem bebendo pois quando o fazia doía muito. Na
manhã de segunda assim que o relógio deu 9 am em ponto eu liguei para o
consultório. Ele atendeu rapidamente e eu aos prantos comecei a falar que eu
não podia comer nada porque doía. Ele disse que sabia que algo estava errado
porque o meu exame de sangue estava completamente desbaratado e que ele iria
pedir mais alguns exames para que pudesse fazer um diagnóstico. Ele marcou uma
endoscopia 3 horas depois de eu pousar em Los Angeles e eu fui direto do
aeroporto para o hospital.
Eu engasguei
assim quando eles colocaram o tubo em minha garganta e fiquei prestando
atenção para ver se eu conseguiria entender o que estava aparecendo nas
imagens. Eles me disseram que eu tinha úlceras na mucosa do esôfago e duodeno.
Eles fizeram várias biópsias e quando o resultado veio alguns dias depois veio
como diagnóstico definitivo: doença de Crohn.
E ali começaria os dois piores anos da minha vida. Eu
estava em casa, com muita dor, sem ninguém e nem família perto. Apesar dos meus
amigos terem sido maravilhosos depois do primeiro mês ficou difícil para eles
me ajudarem como estavam. Havia dias que a dor era tão grande que nenhum tipo
de remédio faria com que passasse. Naqueles momentos eu só pensava que queria
morrer, desejava que algo apenas me matasse assim eu não teria que viver
naquela agonia. Mas no fundo do meu coração apesar de toda a dor e inflamação
eu acreditava que tudo voltaria ao normal e que eu poderia ter a vida normal
que eu tinha antes.
Eu poderia escrever páginas e páginas sobre os
procedimentos, reações adversas e os dois de dores crônicas que sofri, mas nenhum
deles me deixou mais impressionada do que os primeiros dias que percebi que
minha vida seria completamente mudada para sempre. Eu tinha que tomar uma
decisão: correr para casa e me esconder debaixo das cobertas ou lutar contra
essa doença. Uma coisa apenas eu estava certa: jamais teria minha saúde tida
como certa – quando não estamos doentes pensamos que somos super heróis.
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Havia alguns momentos que eu queria xingar tudo e a
todos e desistir de vez, mas na maioria das vezes eu estava agradecida por
estar viva. Eu passei a acreditar que ninguém passa por essa vida ileso e que
essa doença era a minha sina, então que seja. Eu aprendi do jeito mais duro que
eu deveria diminuir o passo, apreciar a vida, os momentos de felicidade e nunca
deixar que o trabalho tomasse conta da minha vida novamente.
Aprendi a não me importar com um monte de coisas,
então eu teria tempo suficiente para me importar com as que realmente deveria.
Meu mantra tornou-se: a menos alguém esteja doente, morrendo or morto, todo o resto tem como ser resolvido. Eu
prometi para mim mesma que se eu me recuperasse eu iria viver minha vida de
forma totalmente diferente.
Eu tenho mantido minha promessa na maior parte do
tempo, e minha doença não tem se manifestado por vários anos já. Eu trabalho de
casa, sei que não é fácil ainda mais quando o seu salário cai drasticamente por
conta disso mas ter minha saúde de volta é bem melhor do que um alto salário.
A maioria das pessoas estão com pressa para conseguir
ou fazer isso ou aquilo, eu não tenho a mesma urgência mais. Se alguém precisa
da minha atenção eu lembro que a maioria das coisas podem esperar. Eu aprendi
que datas não são firmes e que o céu não vai desabar se eu falhar em entregar
um trabalho na data certa ou se eu não responder um email assim que eu
recebê-lo. Eu tenho fotos que precisam ser editadas que já estão 2 dias
atrasadas para a entrega, tenho uma viagem em 3 semanas e ainda nem reservei
hotel e além disso tenho 4 artigos para terminar. Uma parte de mim quer
ignoraras crianças e ir terminar as coisas que tenho para fazer, mas mesmo
assim decidi ir fazer um bolo com o meu filho e assistir um filme de dragão.
Trabalho pode esperar. Na maioria das vezes são coisas
que não tem uma data de entrega que não podem esperar. Eu prometi a mim mesma
que eu faria melhor, seria melhor, viveria melhor. Quando eu morrer quero ser
lembrada como uma esposa e mãe que amou a família acima de todas as outras coisas,
que sempre os colocou em primeiro lugar. Eu também quero ser lembrada como uma
amiga leal que foi amável, generosa e simpática. Não quero ser lembrada como
uma boa funcionária.
Quando eu começo a pensar que ser mãe e esposa são
duas das coisas mais difíceis que já fiz eu tento lembrar que eles são parte da
minha vida. Eu apenas tenho que lembrar os dois primeiros anos depois do
diagnóstico para voltar a agradecer e não ter a certeza que minha família e
minha saúde estarão sempre lá, afinal uma crise pode vir a qualquer momento.
Este artigo foi traduzido pela equipe do
crohnecolite.com.br com a autorização da autora.
Cara Paiuk é uma escritora freelance que já foi publicada no
New York Times, The Hullington Post, Kveller e muitos outros jornais. Ela
também é uma empreendedora e fotógrafa. Além disso é mãe de três crianças, um
garoto de 3 anos e duas meninas gêmeas. Você pode seguí-la no twitter. Obrigado Cara Paiuk!
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